quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Mulher

Florbela Espanca




I Um ente de paixão e sacrifício, De sofrimento cheio, eis a mulher! Esmaga o coração dentro do peito, E nem te doas coração, sequer! 
 Sê forte, corajoso, não fraquejes Na luta: sê em Vénus sempre Marte;
 Sempre o mundo é vil e infame e os homens Se te sentem gemer hão-de pisar-te! Se à vezes tu fraquejas, pobrezinho, Essa brancura ideal de puro arminho
 Eles deixam pra sempre maculada;
 E gritam então vis: "Olhem, vejam É aquela a infame!" e apedrejam a pobrezita, a triste, a desgraçada! 
 II Ó Mulher! Como é fraca e como és forte! Como sabes ser doce e desgraçada! Como sabes fingir quando em teu peito
 A tua alma se estorce amargurada! Quantas morrem saudosas duma image Adorada que amaram doidamente! 
Quantas e quantas almas endoidecem Enquanto a boca ri alegremente! 
 Quanta paixão e amor às vezes têm Sem nunca o confessarem a ninguém Doces almas de dor e sofrimento! 
 Paixão que faria a felicidade Dum rei; amor de sonho e de saudade, Que se esvai e que foge num lamento!

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